Eu sei, estou atrasada em falar da abertura das Olimpíadas, mas muita calma nessa hora, estamos falando em Brasil.

Que abertura hein?! Lindo! Para falar a verdade não esperava nada diferente. Nossa síndrome de vira-lata na Copa, e na vida, nos fizeram contratar alguém de fora para a ‘parte artística’ em 2014, deu no que deu- com todo respeito – aquela meleca. Mas se tem uma coisa que sabemos fazer bem é festa! Cor, música, beleza, somos muito ricos, mas nossa autoestima é problemática, estamos aprendendo a lidar com isso. Nosso ‘colo’ é igual coração de mãe, sempre cabe mais um. Por isso o acolhimento. Não é à toa que o gigante Djokovic se ‘sentiu um brasileiro’, nossa animação vai além do normal.

Em falar em animação, sei que exageramos, aliás desculpe-nos, não sabemos nos comportar em uma Olimpíada. Há muitos jogos que nem sabíamos que existiam, e como em uma festa – que nunca fomos- não sabemos que roupa usar, nós não sabemos como nos portar. Só para você entender a gravidade da situação…

Amigo estrangeiro, não temos educação, o dinheiro gasto nessa Olimpíada foi algo absurdo – poderíamos ter tido educação, hospitais, seguranças etc e tal – confesso que fui e sou completamente contra isso – mas como não falamos quanto gastamos em uma festa com os convidados – não quero me alongar – não seria de bom tom eu continuar com essa história, então o que nos resta é lhes receber de braços abertos, coisa que nosso povo sabe fazer bem e como você pode perceber nos estádios até exageramos.

Que feio as vaias exacerbadas, apesar que, na minha opinião, alguns até mereciam, principalmente quem em um rompante de falta de senso comparou nosso comportamento ao nazismo (querido ‘amigo’ já que o seu país tem mais educação que o meu, estude e nunca mais ouse falar do nazismo sem entender a sua gravidade. Nosso povo é sofrido e muitos aqui tiveram suas famílias dilaceradas no Holocausto). Ok, aceitamos as suas desculpas e receba as nossas, estamos de bem!  Somos um povo que esquece rápido, num próximo encontro te abraçaremos como se nada tivesse acontecido.

Outra coisa, uma das dádivas na vida é saber nos conhecer. Como já disse temos infinitos problemas, mas fazemos uma comida como ninguém. Aliás nosso tempero é algo divino. Ai amiguinho estrangeiro, que feio falar do nosso café, esse que o mundo ama de paixão, e do biscoito Globo (ok, é um bixxxxcoito – com todo sotaque carioquexxxx), mas na boa, quem são vocês que gostam de donuts, aqueles molhos barbecues, ketchup, hambúrguer,  infinitos produtos alimentícios – é melhor eu parar por aqui – para falar da nossa comida?

Amigo, aprenda com a gente, aliás aqui tem verdadeiros tesouros que seu país adora açaí, água de coco, frutas – as mais diferentes, óleo de coco – o queridinho do seu país – e que as famosas amam, feijão, arroz, pão de queijo, brigadeiro, goiabada e etc, ficou feio para você falar isso. Não fale de algo que vocês não tem ‘know-how’ (desculpe pegar emprestado sua ‘língua’). Respeitamos seu ‘cháfé’, respeite o nosso ‘bixcoito Globo’.

Somos um povo de raça, que vive em condições, na maioria das vezes miseráveis – coisas que vocês nem imaginam – estamos começando a ter maturidade política agora. Como uma criança que cai e levanta para andar, estamos nesse nível ainda. Vibramos exageradamente pelos nossos atletas, aliás esses são a nossa cara. Deixa eu lhe falar um pouco deles… A maioria, se apoiou no esporte para ter uma vida digna, mas a vida deles não é um mar de rosas… Alguns dos nossos atletas treinam em condições precárias, vendem tudo para poder comprar sapatos, roupas, e o básico para o treino, saem de favelas – onde dormem ao som de tiros – não tiveram educação, não conseguiram aprender a nossa tão bela língua portuguesa, a maioria nem concluiu os estudos… Vida difícil, por isso vibramos. Uns cairão no esquecimento, outros voarão, se tiverem a sorte de alguém daqui ou do seu país os ‘olharem’. Esses atletas merecem nosso grito, como vocês também.

Tive a oportunidade de conhecer alguns países, morei fora, e adoro reconhecer as riquezas que D’us criou para todos nós. Aliás tudo foi feito para o nosso deleite e desenvolvimento, independente de fronteiras – feitas pelo homem. Tenho um respeito enorme quando chego em um país e vejo sua cultura, tento me ‘enquadrar’ para não desrespeitar vocês.

Mas, nada faz bater meu coração mais forte quando chego no meu país, no cheiro do café, nas pessoas saindo nas ruas pedindo por mudança, no clima (sim, depois de morar fora descobri a benção que é poder abrir a janela todos os dias e não ter frio ou neve), praias, comidas, frutas de fácil acesso, onde minha família nasceu.

Amo esse lugar, onde tive o prazer de nascer, tenho ânimo em ver que nossa maturidade está evoluindo. Gosto da simplicidade daqui, de saber que não precisamos de mil eletroeletrônicos – apesar que existem muitas pessoas que acham que sim- da necessidade de comprar sem cessar, gosto de saber que nas férias não preciso de parque de diversão e sim da boa praia perto de mim,  gosto da família junto e de olhar e ver que meu referencial está no máximo há alguns bairros do meu, amo levar o tupperware da casa da mãe, gosto do humor brasileiro de rir de si mesmo, gosto da nossa leveza, e do nosso poder de transcender a cada dia. Por isso amigo do mundo, quando você chegar aqui, apesar da nossa educação ainda ser falha e dos infinitos problemas, saiba que aqui D’us caprichou na sua beleza, cor, povo, raça e excesso de amor.

Sempre estaremos de braços abertos para recebe-los, aliás adoramos isso. Somos hospitaleiros, nosso país é feito de pessoas do mundo que chegaram para conquistar sonhos, como nossos antepassados. Somos tudo ‘junto e misturado’. Sempre haverá um bom café, com pão de queijo, boa conversa, e acolhimento. Somos assim: exagerados!

Nurya Ribeiro

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